quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Chevrolet Cruze

O Chevrolet Cruze tem diferentes missões onde quer que seja vendido. Nos Estados Unidos, onde começará a ser comercializado em meados de 2010, ele será um rival feito localmente para o Honda Civic e o Toyota Corolla. Mas na Europa ele é a opção feita na Coreia da marca econômica da General Motors e fica abaixo do Opel Astra na hierarquia de preços e marcas da GM. E no Brasil, em 2011, entrará na briga acirrada com os sedãs médios.

A GM vem prometendo aos americanos um carro pequeno “anti-importados” há anos – e tem seguidamente nos deixado na mão, seja com produtos domésticos como o Cobalt ou com Opels rebatizados como o Astra. Então aqui está a pergunta principal: se o Cruze está posicionado como um carro popular na Europa, ele tem mesmo a qualidade e estilo, a funcionalidade e o valor para seriamente desafiar a Honda e a Toyota nos Estados Unidos?

Na Estrada, o Cruze se sai bem. A postura é forte com as rodas parecendo saltar dos para-lamas. Há uma linha média bem definida, uma frente com entrada dupla simples, mas firme, e uma aparência traseira que tem um surpreendente toque do BMW Série 5. É um formato mais interessante que o do Corolla, certamente.
Por dentro, os mostradores divididos em três grupos ficam sob uma viseira do painel, o console central é bem organizado e elegante, e uma faixa de um moderno tecido tipo lona passa pelo painel e portas. Ele é razoavelmente novo e finamente executado. Com o pôr-do-sol, os mostradores se iluminam de azul claro e ponteiros vermelhos da Chevrolet.

O espaço foi cuidadosamente trabalhado: no banco de trás, há espaço de sobra para cabeça e pernas. Na frente, os assentos dão bom apoio e podem ser ajustados de muitas formas. Ele parece um carro compacto feito para americanos.

A Opel alemã é responsável pela plataforma básica, a nova geração da arquitetura Delta da GM. Características notáveis incluem um corpo de alta rigidez e a geometria relativamente sofisticada da suspensão dianteira equipada com buchas hidráulicas e braços inferiores de alumínio. Você consegue claramente sentir a solidez do chassi enquanto passa por superfícies irregulares praticamente sem trepidação e menos ruído do que a maioria dos rivais japoneses, isso apesar da configuração consideravelmente firme das molas na versão europeia.

As molas mais firmes tornam o passeio mais movimentado em estradas irregulares, mas o amortecimento é satisfatório desde que você limite sua velocidade. Que é o que você provavelmente fará.

Por quê? Para começar, as opções de motorização desencorajam uma direção agressiva (mais sobre isso mais tarde), mas a direção também não colabora. Ela é razoavelmente precisa, mas tem curso longo e possui um sistema de autoendireitamento artificialmente forte. Isso pode ajudar a manter motoristas sonolentos na pista, mas mascara completamente a resposta da direção ou o envolvimento do motorista em curvas que seriam interessantes.

Nós forçamos um pouco os limites do Cruze – exclusivamente sob o interesse da descoberta jornalística, você entende – e descobrimos que o carro torce pouco e se comporta bem em curvas antes de finalmente sair de frente. Os motores do Cruze são todos de quatro cilindros, com câmbio manual de cinco velocidades ou automática de seis.
De longe, a melhor unidade europeia é o 2.0 a diesel, como costuma ser o caso em carros vendidos no Velho Mundo. Ele é razoavelmente pacífico e cheio de torque. No entanto, a Chevrolet está cobrando um preço substancialmente alto para esse motor (cerca de dois mil dólares a mais que o motor a gasolina equivalente), e isso é pedir muito em um carro popular.

Os motores a gasolina são naturalmente aspirados e vêm em variantes de 1.6 e 1.8 litro com comando duplo no cabeçote. Uma amostra do 1.8 era inaceitavelmente áspera – muito mais que o 1.6 – e nós pedimos um substituto, que se equiparou em termos de refinamento ao 1.6. Não que isso seja lá grande coisa. Ambos os motores, ainda que razoavelmente suaves, têm um zumbido sem graça e engasgam em alguns momentos, além de se darem trabalho até mesmo para chegar a seu modesto limite de rotações.

E eles não têm muito desempenho de fato nem passam tal sensação. Se você carregar o 1.6 com cinco passageiros mais bagagem, qualquer ultrapassagem em subida será um duro teste de nervos e paciência. O que falta é um motor com o torque do diesel mais o refinamento elástico da gasolina. E, com alguma sorte, ele virá: no Cruze americano, o motor será reduzido para um 1.4 turbo a gasolina com injeção direta e 142 cv previstos. Nós o aguardamos ansiosamente, especialmente já que a GM está prometendo um consumo urbano de 12,75 km/l.

A plataforma Delta, é claro, foi projetada para uma ampla gama de tecnologias de motores. Nós ouvimos que uma versão Voltec híbrida está a caminho. Comparado com o próprio Volt, o Voltec Cruze sofreria no quesito aerodinâmica e os números de consumo seriam piores, mas o preço final deve ser menor e as acomodações, melhores.

Quanto aos estilos de carroceria, o time europeu incluirá um modelo hatchback. Não há informações sobre a ida desse modelo para os EUA junto com o sedã. Também está sendo preparada uma minivan compacta de sete lugares da mesma linha.

Por agora, muitas coisas podem acontecer entre essa primeira impressão de um Cruze feito na Coreia para o mercado europeu e o modelo feito nos Estados Unidos para o mercado americano. Mas nós sabemos agora de muitas coisas positivas. O desenho é sólido, o interior é habitável e tem bom acabamento. A carroceria é rígida e segura em caso de acidentes. A suspensão e direção serão recalibradas para o gosto americano (que provavelmente não vai se encaixar no padrão europeu).

O Cruze é bom o bastante para encarar de frente a Honda e a Toyota nos Estados Unidos? Nesse exato momento, a General Motors mal pode enxergar além da próxima semana, que dirá o ano que vem, mas, supondo que a empresa sobreviva, a solidez básica do Cruze está acima de qualquer suspeita. O desempenho, o refinamento e a economia de combustível do motor 1.4 turbo são fundamentais para as credenciais de “anti-importados” do Cruze. Se esse motor não tiver substancialmente mais energia e resposta do que as versões 1.6 e 1.8 a gasolina do Cruze europeu, a GM vai ter nos deixado na mão. De novo.
Fonte: Revista Auto Esporte